quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

A propósito do falecimento da Beata Mafalda

(artigo que publiquei no jornal "Defesa de Arouca" à passagem do 750º Aniversário da Beata Mafalda e, será aqui desenvolvido aumentado e melhorado)
.
Quando se encontram já volvidos, mais ou menos, sete séculos e meio sobre a morte da Beata Mafalda, pese embora incompleto e inacabado, valerá a pena partilhar um pequeno exercício sobre o dia, ano, local e circunstâncias, em que a chamada Rainha terá adormecido para o descanso eterno.

Tratemos, então, das datas. Pela versão da Lenda: «Viveu os últimos anos da sua vida no Mosteiro de Arouca, onde recebeu o hábito de monja. Morreu aos 90 anos durante uma cobrança de foros e rendas em Rio Tinto, cujos habitantes queriam que D. Mafalda fosse sepultada nessa mesma terra. Mas em Arouca discordavam, porque era no Mosteiro que ela vivia e na sua igreja deveria repousar o seu corpo para sempre. Estava a discórdia instalada quando alguém se lembrou de dizer que se pusesse o caixão em cima da mula em que a Infanta costuma viajar e para onde o animal se dirigisse seria o local onde seria sepultada. A mula não teve dúvidas e quando chegou à igreja do Mosteiro de Arouca, acercou-se do altar de S. Pedro e aí morreu.»
[1].
Apesar da data do nascimento de Dona Mafalda constituir um dos pontos de maior obscuridade, o Padre José Pereira Baião
[2], ousou apontar com certeza a data dessa circunstância. Na sua opinião, terá nascido no dia 13 de Maio de 1195, tendo como berço a cidade de Coimbra[3].
Já Frei Fortunato S. Boaventura
[4], por não ver até então nem história, nem documento, donde pudesse alcançar alguma clareza, serve-se de duas doações feita por D. Sancho I, uma feita em Fevereiro de 1195 e outra em Junho de 1196, onde não aparecendo referida na primeira, aparece na segunda, para concluir «…sem violência, ou temeridade, que a Rainha D. Mafalda nasceu no intervalo de tempo, que se conta desde 20 de Fevereiro de 1195 até Junho de 1196». No entanto, em nota de rodapé, que nesta obra são da autoria de Dom Domingos de Pinho Brandão, refere-se que: «A Beata Mafalda, nasceu à volta de 1185, ou pouco depois.». Contudo, mantém o texto a tese do seu escritor que, logo na página seguinte reforça a mesma: «…e tendo eu já mostrado que o nascimento da Rainha D. Mafalda não sucedeu antes do ano de 1195…». No entanto, Pinho Brandão, insiste e reitera a data de 1185, em nota de rodapé, nesta mesma página, atribuindo-a, agora, a A. de Almeida Fernandes. Trata-se de um lapso. Igualmente em nota de rodapé, agora nas suas Notas Monográficas, defende que «Efectivamente, como rectificamos em errata apensa ao referido livro, a Beata Mafalda nasceu em 1195 e casou com 20 anos de idade.»[5].
Marsilio Cassotti, corrobora a tese contida em “D. Afonso II. Relações de Portugal com a Santa Sé durante o seu reinado”
[6], e defende que D. Mafalda «…nascera entre meados de 1195 e inicio de 1196…»[7].

Quanto ao dia da morte da Beata, Frei Fortunato de S. Boaventura, narra-o da seguinte forma: «Assim fechou a luminosa carreira dos seus dias no primeiro de Maio uma Princesa, que foi, como temos visto, a mãe dos pobres, a consoladora das viúvas e o asilo da inocência oprimida…»
[8]. Advertindo, em nota de rodapé, que uma leitura errada do epitáfio por Frei Bernardo de Brito terá levado ao engano de muitos historiadores, «que marcam o falecimento da Rainha D. Mafalda na era de 1290, que é o ano de Cristo 1252; mas o testamento lavrado na era de 1294, e a certeza do metro, que aliás fica errado, necessitam de ler: Quattuor adjunctis, e não deve ler-se: Quimque adjunctis, como arbitrariamente lia o Padre José Pereira Baião, que assim o publicou na vida de Santa Mafalda, que vem no seu Portugal Glorioso, a pág.211».
Marques Gomes
[9] escreve que: «D. Mafalda era filha de D. Sancho I e de sua mulher D. Dulce de Aragão. Julga-se ter nascido pelos fins de 1189…» e, mais à frente, aponta para o seu padecimento nos seguintes termos: «Depois d’uma vida sanctificada durante 90 annos pelas mais acrisoladas virtudes, cuja memória a tradição trouxe até nós, D. Mafalda acolheu-se ao seio de Deus, em 1 de Maio de 1290, depois de haver legado ao mosteiro todos os seus haveres.».
Esta possibilidade sentencia-se a si própria. Pelas datas apontadas, Dona Mafalda, vivera 101 anos. Dessa proeza traria certamente a história relato.
Segundo as notas monográficas de Manuel Rodrigues Simões Júnior no Cancioneiro de Arouca, «Dona Mafalda, filha de D. Sancho I, nasceu em Coimbra a 1 de Maio de 1195…» e «…faleceu em 1 de Maio de 1256, como consta do Livro de Óbitos de St.ª Cruz de Coimbra, em Arouca, não obstante a lenda a dizer falecida em Rio Tinto…»
[10].
Tem esta possibilidade tanto de plausível como de curiosa a relação entre as datas. Terá falecido com 61 anos.
Por outro lado, Marques Gomes, ao descrever a freguesia de Albergaria das Cabras, refere que: «A rainha Sancta Mafalda fundou aqui uma albergaria, em 1280.».
Simões Júnior, a propósito desta albergaria, no seu estudo sobre o MACIÇO DE FUSTE
[11], corrobora a tese de Frei Guilherme de Vasconcelos, referindo, entre outras coisas, que «da albergaria não resta hoje mais do que uma pedra, em granito local, metida no muro de vedação do cemitério, com uma inscrição, lendo-se ainda: Alberg… pobres com obrigacam de dar duas camas hua pª pobres outra pª ricuos renovada em todo seman…. Na era de 641. A sua fundação data de 1280».
Por aqui invertem-se os papéis. Se demos por plausível a possibilidade apontada por Simões Júnior e abandonamos a tese de Marques Gomes, sobre o ano da morte de Dona Mafalda; o ano de 1280, como sendo o ano em que, a mesma, fundou uma Albergaria na Serra da Freita, aproveita a Marques Gomes e rasteira Simões Júnior.
Está aqui indiciada uma confusão com Dona Mafalda, mulher de D. Afonso Henriques. Contudo, como poderemos verificar infra não será caso único. No entanto, esclareça-se, desde já, que a Beata Mafalda, de que estamos a tratar, era neta de D. Afonso Henriques e Dona Mafalda, condessa de Sabóia, em cuja homenagem foi dado o nome desta última à filha de D. Sancho I e Dona Dulce de Barcelona, infanta de Aragão. Ou não! Porque nesta linhagem encontramos ainda uma outra Dona Mafalda, infanta de Portugal. Trata-se de uma filha de D. Afonso Henriques e Dona Mafalda, condessa de Sabóia, e, por isso, irmã de D. Sancho I, pai da “nossa” Dona Mafalda. Tal como esta última, que chegou a contrair matrimónio com Henrique I, rei de Castela, também o casamento de sua tia esteve contratado com Afonso II, rei de Aragão, contudo não chegou a efectuar-se por morte da infanta. Por isso, e até prova em contrário, também não será descabido aventar a possibilidade do nome da filha de D. Sancho I ser uma homenagem a sua tia que faleceu prematuramente.
Maria Mendonça
[12] escreve em nota de rodapé: «ignora-se a data do seu nascimento, constando apenas que foi dos últimos filhos do consórcio de D. Sancho e D. Dulce, efectuado em 1174, e do qual houve numerosa prole.». «Os anjos ao recolher-se o último suspiro deixaram-lhe estampada no rosto uma celestial expressão de beatitude, reflexo da que começou então a gosar com a posse de Deus. Foi o seu passamento no dia 1 de Maio de 1257.»[13]. Apesar da tese ser a de tradição, conta mais um ano que a maioria dos autores. Como veremos a seguir, não é caso único.
Porém, ressalva aquela mesma autora que, «segundo outras opiniões, entre elas a de Frei Bernardo de Brito, o falecimento da nossa Santa foi em 1252. Transcrevendo o epitáfio latino da sepultura da Santa escreveu este autor na Crónica de Cister: «Mille ducentorum monaginta fuit era», isto é, era de mil duzentos e noventa (ano de Cristo 1252), mas Brandão, que em Arouca reviu o epitáfio, escreveu: «Mille ducentorum monaginta fuit era quimque…», isto é, era de mil duzentos e noventa e cinco (ano de Cristo 1257) …»
[14].
Pedro Dias
[15], por sua vez, procurando ser mais consensual, situa o nascimento entre 1195 e 1196. E, relativamente ao dia do passamento da célebre monja, embora mais preciso, faz exercício idêntico ao situar o acontecimento entre o dia 1 e 2 de Maio de 1256.
David Simões Rodrigues
[16] defende a tese de que «Falece quando, em 1.5.1256, ia, em romagem, a caminho de Amarante».
Mas, também pela Internet se encontram versões diversificadas: «Mafalda passou para a história do povo português como “a rainha Santa Mafalda”. Ela foi uma das filhas do rei de Portugal Sancho I, o Povoador, e da rainha Dulce de Aragão. Em 1184, quando nasceu herdou o nome de sua avó paterna, Mafalda de Savóia e se tornou uma jovem muito bela. Recebeu a educação própria aos nobres.». Segue-se uma nota importante: «Em Portugal, Mafalda passou a auxiliar monges e monjas com doações a mosteiros. Mais tarde, ela ingressou no Convento de Arouca, Portugal, e se tornou monja cisterciense da Ordem de São Bernardo, de cujo convento só saía para fazer peregrinações à catedral do Porto, onde entregava suas jóias no altar de Nossa Senhora, de quem era muito devota…». Termina esta versão da seguinte forma: «Devido às obras de caridade que fez, o Papa Alexandre IV, de próprio punho agradeceu os serviços que ela prestou à Igreja, com uma carta de 1255. Mafalda morreu no dia 1 de Maio de 1257, no mosteiro de Arouca, Portugal, onde seu corpo foi sepultado.»
[17].
O site da genealogia portuguesa
[18]apresenta o ano de 1200 para assinalar o nascimento da Infanta Mafalda e, 1257 como o ano do padecimento da dita Rainha Santa Mafalda. Em 1215 casara com Henrique I de Castela, que nascera em 1204, ou seja, com, nada mais nada menos, 11 anos de idade[19].

Tratemos agora do local e circunstancias em que Dona Mafalda terá abandonado o mundo dos vivos. Já vimos atrás que na versão da lenda: «Morreu aos 90 anos durante uma cobrança de foros e rendas em Rio Tinto, cujos habitantes queriam que D. Mafalda fosse sepultada nessa mesma terra. Mas em Arouca discordavam, porque era no Mosteiro que ela vivia e na sua igreja deveria repousar o seu corpo para sempre.»
[20].
Frei Fortunato S. Boaventura, agora com mais certezas, aponta a morte de Dona Mafalda na seguinte circunstância: «Sem cuidar em si, quando se tratava de cuidar na glória da Santa Virgem, enchia o fim da sua peregrinação e depois de haver conseguido ante a imagem de Nossa Senhora da Silva os esforços e auxílios necessários para outra mais dilatada peregrinação, já tinha vencido duas léguas de caminho, quando na povoação de Rio Tinto se lhe declarou uma febre aguda, com sintomas de mortal, e logo conheceu a virtuosa Rainha ser chegado o último dos seus dias.»
[21].
Maria Mendonça defende a mesma tese: «Um dia que regressava duma das suas peregrinações à aludida Senhora da Silva, do Porto, foi D. Mafalda acometida de doença súbita que a prostrou, pelas alturas de Rio Tinto.»
[22].
Marsilio Cassotti, que também situa o falecimento da filha de D. Sancho I em 1 de Maio de 1256, sustenta que terá padecido «…no mosteiro de Rio Tinto, perto de Gondomar, quando se dirigia em peregrinação a Nossa Senhora da Silva.»
[23].
Francisco Fonseca Benevides, no seu “Rainhas de Portugal”, refere que D. Mafalda, uma vez regressada a Portugal «…entrou no mosteiro de Arouca (…), onde faleceu a 1 de Maio de 1256.»
[24].
Simões Júnior sustenta esta mesma tese e refere que «…faleceu em 1 de Maio de 1256, como consta do Livro de Óbitos de St.ª Cruz de Coimbra, em Arouca, não obstante a lenda a dizer falecida em Rio Tinto…»
[25].
Já Pedro Dias não alinha pela tese do primeiro Director do Museu de Arte Sacra de Arouca, e sustenta que: «morre em Tuias
[26] e não em Rio Tinto como refere a lenda.»[27].
Nogueira Gonçalves, que não foi indiferente aos escritos daqueles autores em muitos outros aspectos, escreve que Dona Mafalda «Faleceu acidentalmente em Rio Torto
[28] a 1 de Maio de 1256, sendo sepultada em Arouca, como determinava no testamento.»[29].
David Simões Rodrigues que, já vimos, defende a tese de que «Falece quando, em 1.5.1256, ia, em romagem, a caminho de Amarante», narra que Dona Mafalda «Pressentindo a morte, colocando-se o problema da sua inumação, terá dito que, uma vez falecida, colocassem o ataúde em cima da mula e onde esta parasse aí se sepultassem. Diz a lenda que o animal veio parar junto do altar de S.Pedro do ascetério de Arouca.»
[30].
Na reedição da obra “Arouca. Uma Terra, um Mosteiro, uma Santa”, Maria Helena da Cruz Coelho, conhecendo as versões de Fr. António Brandão, António Caetano de Sousa, Fr. Fortunato de S. Boaventura, e de que na sua maioria os autores colocam o falecimento de Dona Mafalda a 1 de Maio de 1256, pese embora não tome partido por data certa, sustenta-se em fontes documentais para afirmar que «Mafalda estanciava, nessa precisa data, em Tuías, e em seu nome é passada uma carta de quitação ao seu mordomo Paio Gonçalves.» Adianta que Dona Mafalda «estaria possivelmente doente, pois aí se encontravam a abadessa D. Maior Martins e monjas do mosteiro, o ex-deão de Lamego, quatro frades Pregadores capelães da rainha e cinco cavaleiros.» Se terá falecido nesse dia, Cruz Coelho afirma não saber. Contudo, é peremptória em afirmar que Dona Mafalda «deve ter acabado os seus dias em Tuías e não em Rio Tinto, como refere a lenda.»
[31]. Sobre a data daquela carta de quitação passada a Paio Gonçalves, Maria Helena Cruz Coelho, adverte que, no entanto, «…a vontade da rainha, a «actio», podia ter sido passada a escrito algum tempo depois, e 1 de Maio corresponder, pois, tão-só, à «conscriptio». Só que, como é óbvio, não iriam datar um documento, em que a rainha é autora, após a sua morte.»
Ao mesmo passo, e em notas de rodapé, Cruz Coelho, sustentada em documentos, vai esclarecer e refutar algumas das teses anteriores. Nomeadamente, a de Fr. António Brandão que em «Quarta Parte da Monarchia Lusitana, pp.202 v.,204, relata a lenda da morte em Rio Tinto, mas afirma que D. Mafalda morreu em Arouca, Frei Fortunato de S. Boaventura, conta a lenda e reitera-a.»
Fr. Fortunato de S. Boaventura, em Memórias para a vida da Beata Mafalda…, que vimos supra, para sustentar a sua tese, ter-se-á baseado no Livro dos Óbitos de Santa Cruz de Coimbra. Todavia, refere Cruz Coelho, «no referido livro apenas nas Nonas de Dezembro (5 de Dezembro) se anota: «obiit domna Mafalda Portugalensis regina»(B.P.M.P. – Livro dos Óbitos de Santa Cruz de Coimbra, n.º 84, fl.84), o que pode não se referir à mesma pessoa.»
De uma coisa, Cruz Coelho, tem a certeza: «…terá falecido antes de 6 de Julho de 1256, data em que Afonso III está a executar o seu testamento a favor do mosteiro de Arouca.»
[32]. Um dado importante que, a ser tomado em conta, deita por terra todas as teses que apontam 1257 como ano da morte de Dona Mafalda.

Mais que provada e comprovada a presença de Dona Mafalda em Arouca, cabe cuidar da eventualidade da extrema clausura a que dizem ter-se submetido, lhe ter permitido circular pela bacia do Douro. Por isso, procuram-se algumas razões para o trânsito de Dona Mafalda pelo Porto, Rio Tinto, Tuias (Marco de Canavezes) e Amarante.
Uma versão defendida em Rio Tinto: «O lugar do Mosteiro e o Lugar do Monte da Burra, são dois locais característicos da nossa cidade. Também se pode visitar a Quinta das Freiras, com o Torreão, que é o que resta de um Mosteiro de freiras Agostinas fundado em 1062. Neste Mosteiro, faleceu no séc. XIII, a rainha Santa Mafalda, filha de D. Sancho I. A Igreja de Rio Tinto foi construída “no ano de 1768 sendo abadessa a Madre Dona Thereza Maria da Silva”, reconstruída em 1830 e remodelada em 1933. Num dos laterais da Igreja encontramos um painel alusivo a Santa Mafalda, princesa que vinha várias vezes de Arouca a Rio Tinto visitar a Nossa Senhora Silva. Esta princesa faleceu na freguesia de Rio Tinto no ano 1290, durante uma das suas visitas.»
[33].
O portal Wikipédia difunde a informação de que terá falecido «…no mosteiro de Rio Tinto, nas proximidades do Porto. Quando o seu corpo foi mais tarde exumado para ser trasladado para a abadia de Arouca, foi descoberto incorrupto, o que gerou uma onda de fervor religioso em torno do corpo da infanta.»
Uma outra (versão) defendida em Marco de Canavezes: «Aqui viveu a rainha D. Mafalda, fundadora da Albergaria de Canaveses. Pertenceu-lhe, em Constance, a Quinta do Paço de Soutelo, que ainda hoje representa um dos seus maiores motivos de interesse. A tradição, seguida pelos mais diversos autores, refere ser esta D. Mafalda, pela coincidência do nome, a primeira rainha de Portugal, mulher de D. Afonso Henriques. Mas a realidade é bem diferente. Esta D. Mafalda era antes a sua neta, filha de D. Sancho I e de D. Dulce. (…) No lugar de Soutelo, dizíamos, existia nos inícios do século XIII o tal Paço de D. Mafalda. (…) Soutelo terá sido originalmente uma pequena propriedade de D. Egas Moniz, aio de D. Afonso Henriques. Sua filha, ama de D. Mafalda, deixou-lhe vastíssimos haveres, entre os quais o referido paço.»
[34].
Francisco da Fonseca Benevides, procura desfazer a confusão relativamente à senhora que terá estanciado por Canaveses, baseando-se num diploma de D. Dinis, de 20 de Novembro de 1294, onde regulamenta a utilização da albergaria mandada construir por sua trisavó em Canaveses
[35].
Das notas de Simões Júnior – Descrição da fundação do Real Mosteiro de Arouca, e Dona Mafalda é chamada Rainha – recortamos as seguintes passagens:
Após desfeito ou tornado nulo o casamento de Dona Mafalda com Henrique I de Castela, «…a Rainha Dona Mafalda, que tornando para Portugal, El Rei D. Sancho seu Pai a fez Comendatária deste Mosteiro de Arouca e do Mosteiro de Tuías, perto de Canavezes, que se uniu ao de S. Bento de Ave Maria da Cidade do Porto e a mesma Rainha Dona Mafalda dele fez menção no seu testamento.».
«O Mosteiro de São Domingos edificou a Rainha Dona Mafalda, não a molher del Rey Dom Afonço, que edificou a See, mas hua sua filha, que se chamou também assi; e naquelle tempo chamauão Rainhas as filhas dos Reis e não Ifantes, como agora se chamão. E esta mesma fundou o mosteiro das freiras de Arouca, onde ella jaz.»
[36].
Maria Helena da Cruz Coelho, ao tratar dos Patronos do Mosteiro de Arouca
[37], conclui «…que Dona Mafalda terá dominado o mosteiro de S. Pedro, ainda que nele não tenha ingressado, antes das datas apontadas de 1217 ou 1220.», anotando que: «Assim a vemos deslocar-se a Tuias, para tratar de certos assuntos relacionados com a Ordem do Hospital, no ano de 1221…».
Filomeno Silva
[38], na esteira de Cruz Coelho, vai reiterar a tese de que «O Mosteiro, primeiramente propriedade de particulares, acabou em data incerta por cair nas mãos da coroa. É D. Sancho I que vai deixá-lo em testamento juntamente com o Mosteiro de Bouças (Matosinhos) a sua filha D. Mafalda.».
No livro O Mosteiro de S. Pedro e S. Paulo de Arouca (História e Arte)
[39], Cruz Coelho juntamente com Luís Miguel Rêpas, vão sustentar que «Morta D. Toda Viegas e a abadessa D. Elvira Anes (1154-1203), a quem, como referimos, a primeira entregou o governo do cenóbio, o mosteiro terá passado para a Coroa, deixando-o D. Sancho I, em 1210, em testamento, a sua filha Mafalda.»[40]
«Mafalda nasce entre finais de 1195 e princípios de 1196. Foi criada e perfilhada por Urraca Viegas de Riba Douro – filha do lendário Egas Moniz, o “Aio” – já que sua mãe morrera quando Mafalda era ainda criança, tendo também como ama Ouroana Peres. Seu pai, D. Sancho I, segundo rei de Portugal, doara-lhe, em 1196, o Mosteiro de S. Salvador de Bouças e receberá também o de Tuías, por morte da sua nutritor, como que uma predestinação para um íntimo relacionamento com as instituições monásticas. D. Sancho I, no testamento de Outubro de 1210, lega-lhe o Mosteiro de Bouças – que afinal já era seu – o de Arouca, a herdade de Seia, que fora de sua mãe, e certos montantes em numerário. Após a morte de Sancho I, seu filho, D. Afonso II, impugnou largamente este testamento, sobretudo devido às dádivas de terras acasteladas a suas irmãs Teresa e Sancha. Mafalda apartou-se rapidamente deste diferendo, entregando Bouças e Vilar de Sande à Ordem do Hospital[41][42].
___________
[1] in www.lendasdeportugal.no.sapo.pt
[2] in Portugal Glorioso e Ilustrado, etc., Lisboa 1727.
[3] S. BOAVENTURA, Frei Fortunato de (1986), Memórias para a vida da Beata Mafalda (adição de Fr. Bernardo de Brito; introdução e notas de D. Domingos de Pinho Brandão), Porto, pág.19.
[4] idem, ibidem, pág.20.
[5] BRANDÃO, Domingos de Pinho e LOUREIRO, Olímpia Maria da Cunha (1991), Notas Monográficas, Centro de Estudos D. Domingos de Pinho Brandão. Arouca. pág. 48.
[6] de VELOSO, Maria Teresa Nobre (2000), Coimbra, pág.90.
[7] in Infantas de Portugal, Rainhas em Espanha, pág.62.
[8] idem, ibidem, pág.103.
[9] in O Districto de Aveiro, Noticia Geografhica, Estatística, Chorographica, Heráldica, Archeologica, Histórica e Biographica da Cidade de Aveiro e de Todas as Villas e Freguezias do seu Districto. Coimbra 1877.
[10] PEREIRA, Virgílio (1990), Cancioneiro de Arouca, Edição Fac-similada, Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, Arouca, pág.39 e 40.
[11] in Maciço de Fuste. Sua Razão Histórica. Aveiro 1945
[12] in Beata Mafalda (A «Rainha Santa» de Arouca). Lisboa 1931, pág. 3 ss.
[13] idem, ibidem, pág.27
[14] idem, ibidem, pág.28
[15] DIAS, Pedro (2000), Mosteiro de Arouca, Edição RIRSMA, 2ª Edição, Arouca, in www.museu-de-arouca.pt.vu.
[16] in Rio Meão - A Terra e o Povo na História – Vol.I, MMI, Junta de Freguesia de Rio Meão, pág.25.
[17] in www.catolicanet.com.br
[18] in www.genalogia.netopia.pt
[19] idem, ibidem, por D. Mafalda
[20] in www.lendasdeportugal.no.sapo.pt
[21] idem, ibidem, pág.98 e 99.
[22] ob., cit., pág.26 ss.
[23] in Infantas de Portugal, Rainhas em Espanha, pág.75
[24] Ob., cit., pág.116.
[25] PEREIRA, Virgílio (1990), Cancioneiro de Arouca, Edição Fac-similada, Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, Arouca, pág.39 e 40.
[26] Actualmente, é uma Freguesia pertencente ao concelho de Marco de Canavezes
[27] ob.,cit.
[28] Vila de Fânzeres, Gondomar
[29] GONÇALVES, A. Nogueira (1991), Inventário Artístico de Portugal. Distrito de Aveiro (Zona de Nordeste), Lisboa, pág.32
[30] ob,cit. pág.25
[31] CRUZ COELHO, Maria Helena da (2005), Arouca. Uma terra, um Mosteiro, uma Santa. Arouca, pág.37.
[32] idem, ibidem. pág.37ss.
[33] in www.nonio.esb.ucp.pt
[34] in “Marco de Canaveses – Entre o Douro e o Tâmega onde começa o Marão…” Anegia Editores, 1997.
[35] Rainhas de Portugal, pág.101 e 103, citando ANTT. Livro II de Além-Douro, fl 81 verso.
[36] Versão original de: Doutor João de Barros – Geografia d’entre Douro e Minho e Trás-os-Montes.
[37] in O Mosteiro de Arouca. Do século X ao século XIII. Arouca 1988, pág.40
[38] in Arouca D’Ontem, ADCA 1993. pág.9
[39] da Real Irmandade Rainha Santa Mafalda. Arouca 2003.
[40] ob, cit. pág.13
[41] que mais tarde passa a denominar-se Ordem Soberana e Militar de Malta.
[42] idem, ibidem

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