terça-feira, 10 de março de 2009

"Capela da Senhora da Lage, de Rossas ou Urrô"

Edificada junto à linha divisória das freguesias de Rossas e Urro, a Capela da Senhora da Lage foi, em tempos remotos, alvo de uma contenda entre as populações dos lugares mais próximos de uma e outra freguesias.
Tudo se terá motivado pelas constantes demarcações dos limites da actual freguesia de Rossas, até 1834 Comenda da Soberana Ordem Religiosa e Militar de Malta.
As referidas demarcações dos limites da freguesia eram, então, feitas: colocando uns marcos de pedra, com cerca de um metro de altura e com a cruz de malta esculpida, assim como o ano da respectiva demarcação. Estes marcos, dos quais ainda hoje subsistem cerca de duas dezenas (dos 46 iniciais), eram colocados pela linha limite numa distância de cerca de 100 a 200 m, nas zonas mais problemáticas. Noutras zonas, porém, a existência de uma vertente de água facilitava a demarcação.
Em terras ermas e de ninguém tudo foi muito bem! E, com a freguesia de Urro com a qual se limita a de Rossas, desde o lugar chamado do Prençoilo (na estrada de Nogueiró para Lourosa de Matos) até ao lugar chamado do Merujal, nenhum problema houve. No entanto, já com a Capela de Nossa Senhora da Lage, o mesmo não se poderá dizer.
Corria o ido ano de 1630 e, andando os maiores da freguesia de Rossas, devidamente mandatados pelo Comendador e acompanhados pelas autoridades necessárias, assim como os maiores das freguesias limite, a fazer a dita demarcação, colocado os referidos marcos em locais visíveis e, nomeadamente, onde o trânsito de pessoas fosse mais frequente. Uma vez chegados ao alto da Senhora da Lage, tudo se deveria fazer de igual forma e por maneira a esclarecer devidamente o que a uma e outra freguesia pertencia.
Até perto da Capela bem foi! O pior haveria de se dar ao colocar um marco junto da Capela.
Sem procurar saber de que lado vinham os homens da dita demarcação, as pessoas da freguesia de Urro, porque a freguesia de Rossas alegadamente se estava a apropriar da Capela, depressa acorreram ao local munidos de toda a espécie de alfaias agrícolas. Neste caso fazia toda a diferença que os homens viessem a demarcar pelo norte ou por oeste. Por aquela via, a Capela ficava dentro de Rossas; por esta, permanecia na freguesia de Urro.
E, pese embora, segundo o auto de demarcação de 1630, esclareça que a dita Capela pertence à freguesia de Urro, mesmo assim, os ânimos só haveriam de serenar com a reserva de prevenção feita em 1656.
Contudo, e como mais vale prevenir do que remediar, já em pelo século XX, foi partido o cruzeiro de Rossas, existente no Calvário da Senhora da Lage, arrancados e partidos alguns dos marcos que suscitaram maior polémica. Ao mesmo tempo e rapidamente se espalhou o boato de que bastaria que a cruz paroquial de Rossas entrasse na capela para que, imediatamente, passasse a fazer parte da freguesia de Rossas.
Por outro lado, e a contribuir para a confusão, vários autores dizem ter a Dona Mafalda (mulher de D. Afonso Henriques) fundado duas Albergarias, que a Beata Dona Mafalda aumentou depois: uma na serra de Fuste e outra em Rossas, provindo a confusão de que o local em que fundou a da serra de Fuste, pertencia, naquele tempo (era de 641), à freguesia de Rossas, comenda da Ordem de Malta. No entanto, segundo Frei Fortunato de S. Boaventura, a pousada ou albergaria criada na serra de Fuste, situava-se no lugar chamado, mais tarde, Albergaria, sede de Albergaria das Cabras, agora Albergaria da Serra. Muito provavelmente, será desta a inscrição que se encontra, actualmente, na parede do cemitério, onde se pode ler: «Alberg…pobres com obrigacam de dar duas camas hua pª pobres outra pª ricuos renovada em todo seman… na era de 641».
Quanto a Rossas, ficou a tradição duma outra levantada ao lado da estrada que do Merujal seguia para o Porto. Porém, terá desaparecido no dealbar do séc.XVIII.
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Contudo, e certos de que a Capela da Senhora da Lage, efectivamente, pertence a Urrô, nos nossos dias, e para quem conhece a área e os antigos limites da Comenda, e aquele que, actualmente, é o lugar do Merujal, parece resultar claro que o Campo de Futebol da Senhora da Lage e aquela aberrante construção que servirá de Cemitério, tal como grande parte do lugar do Merujal que entretanto cresceu, se encontram dentro da freguesia de Rossas. Terá, entretanto, ocorrido alguma modificação? O mapa de Arouca “diz” que não. Continua o desenho da freguesia de Rossas a acabar em bico naquela parte. Terá, então, havido alguma cedência? Não há nenhum documento que o “diga”. Irá haver novo litígio?
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(Baseado em: "Memórias para a vida da Beata Mafalda", 1814, de Frei Fortunato de S. Boaventura; "Senhora da Lage", de Filomeno Silva; "Rossas – Inventário, Natural, Patrimonial e Sociológico", de A. J. Brandão de Pinho (não publicado)). in Meu Rumo

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